Thursday, March 30, 2006
Wednesday, March 29, 2006
Saturday, March 25, 2006
Leituras....
entre mim e o meu silêncio há gritos de cores estrondosas
entre mim e o meu silêncio há gritos de cores estrondosas e magias recortadas dos sonhos que acontecem naturalmente. eu sou cama onde me deito, todas as noites diferente, eu sou o sorriso estridente dos pássaros no céu todo, eu sou o mar, o oceano velho a abrir a boca numa gruta que assusta as crianças e os homens que conhecem o mundo. eu sou o que não devia e rio, rio, rio, porque sou puro, porque sou um pouco da alegria, porque mil mãos e dez mil dedos me percorrem o corpo e me beijam. entre mim e o meu silêncio há uma confusão de equívocos que não entendo e não admito. sou arrogante, porque sou do país em que inventaram a arrogância. sou miserável. que sei eu? sou um viajante com destino traçado, como o fumo deste cigarro que desaparece indeciso e já esqueceu de onde veio. e rio, rio, rio, perdido e desalmado, de dentes sujos e quase doente, porque minha é esta esperança e esta vontade de nascer cada manhã, em cada rosto, em cada fósforo aceso, em cada estrela. rio, rio, rio, porque meu é o amor e o luto e a fome e todas as coisas que fazem esta vida que não entendo e persigo. eu sou um homem vivo a sentir cada pedra, eu sou um homem vivo a sentir cada montanha, eu sou um homem vivo a sentir cada grão de areia. desordenadamente, eu sou alguém que é eu sem o saber, entre mim e o meu silêncio há um desentendimento esculpido nas flores e nas nuvens, rio, rio, rio, eu sou a vida e o sol a iluminar-me.
José Luís Peixoto " A Criança em Ruínas" edições quasi
Wednesday, March 22, 2006
"Vivo sempre o Presente. O Futuro, não o conheço. O Passado, já não o tenho.
Pesa-me um como a possibilidade de Tudo, o outro como a realidade de Nada"
(Pessoa, Fernando)
Tuesday, March 21, 2006
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou, Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
"Cântico Negro"-José Maria dos Reis Pereira (José Régio in "Poemas de Deus e do Diabo" - 1925)
Friday, March 17, 2006
Thursday, March 16, 2006
Lugar Comum
Lugar-Comum não no seu sentido vulgar.... Lugares em Comum é o q este espaço pretende ser:
Lugares, pessoas, experiências, sensibilidades, estados de espírito, revoltas, revoluções, avanços, retrocessos , notas, pedaços de humanidade, músicas, arte, artes....................